O
Martírio dos Suicidas
Para demonstrar que a situação vivida
por Camilo, longe de ser uma exceção, é uma realidade a ser compartilhada por
todos os que seguiram o mesmo caminho ilusório, relacionamos outros
depoimentos.
Na seqüência, anotações resumidas,
elaborado pela Sociedade Espírita Raios de Luz (Tapera – RS), a partir do relato
de suicidas, inseridos em o livro O Martírio dos Suicidas.
Dr. Raul Martins – Juiz íntegro,
inteligente, católico fervoroso.
Suicidou-se em 21 de novembro de 1920.
Trinta e três meses após, ele próprio conta suas experiências.
“O candidato a suicídio se ilude, supondo que vai
se libertar das dores, das tristezas, da miséria. Que trágica
ilusão!
Eu também me enganei – e, longe de
diminuir o sofrimento, ele aumentou e se tornou muito mais profundo aqui no
espaço, onde não há noite nem dia, onde não se pode dormir pelo menos...
-
São milhões os desgraçados que como
eu, se debatem nas trevas da amargura -
amargura que, além de tudo, é inútil, porque ninguém morre. Aqui, se vive, mais vivo que nunca. Aqui sim, se
sofre!
Sejam fortes vocês que estão lendo
estas páginas! Quando forem vítimas do sofrimento, afugentem a idéia do suicídio
porque se nele caírem, será aberto diante de seus pés, o mais tenebroso
inferno!”
Jacinto - O caso que segue foi narrado pelo
próprio suicida, a um amigo, pedindo-lhe que publicasse tão dramática exposição,
servindo de alerta a quem pensa em suicídio:
“Sou Jacinto, seu amigo, morto há 25 anos. Matei-me
com um tiro nos miolos. Lembra-se de mim? Na véspera do meu suicídio, estive no
seu escritório e contei-lhe sobre minha vontade de acabar com a vida. Você me
aconselhou – e seus conselhos, tive a loucura de não seguir. No dia seguinte,
matei-me.
Venho agora, dizer-lhe o que é o
suicídio e pedir-lhe que escreva e publique tudo, para alertar aos outros loucos
que têm em mente, a idéia de fugir da vida.
No dia em que me matei estava
desesperado e você sabe os motivos.
Ajeitei o revólver no céu da boca. Dei
o tiro, mas verifiquei ainda estar vivo, sentindo dores agudas e ouvindo os
gritos dos meus familiares – mas não podia me mover.
Continuei com o corpo morto, mas sem
poder me separar do cadáver. Assim paralisado, assisti aos funerais ouvi os
lamentos e as recriminações dos presentes, pelo meu ato. Horrorizado, vi fecharem o caixão sobre mim. Fui
conduzido, assistindo a tudo e sempre sentindo a dor do ferimento da
boca.
Carregaram-me ao cemitério, me
enterraram e me deixaram sozinho.
Senti a sufocação do fundo da cova,
mas não podia fazer o mais leve movimento. Estava colado ao corpo
morto!
As dores que sentia eram fabulosamente
insuportáveis. E, logo a seguir, passei a sentir o cheiro do corpo apodrecendo.
Senti as mordeduras dos vermes, milhões de mordidas ao mesmo tempo, por todo o
corpo. Dores incríveis!
Muito tempo depois, a carne foi se
separando dos ossos, foi se acabando e eu sempre ali, sentindo as dores e
assistindo a tudo.
A sede, a fome e o frio me torturavam.
A dor do ferimento da boca nunca me abandonou. Jamais tive um único minuto de
descanso, em que eu pudesse dormir.
O jazigo foi aberto duas ou três
vezes, para a colocação de cadáveres de pessoas da família. De quem? Nunca pude
saber, porque não conseguia ao menos ir olhar quem estava enterrado ao meu
lado.
Nestes últimos dias, fui libertado!
Vou continuar minha condenação em outro lugar. Antes disso, aqui estou para
pedir-lhe que diga aos que sofrem, o que é o suicídio.
Esta é minha contribuição.