A desgraça
Real
Desgraça é todo
acontecimento funesto, desonroso, que aturde e desarticula
os sentimentos,
conduzindo a estados paroxísticos,
desesperadores.
Não somente aqueles que
se apresentam trágicos, mas também inúmeros outros
que dilaceram o ser
íntimo, conspirando contra as aspirações do
ideal e do Bem, da
fraternidade e da harmonia íntima.
Chegando de surpresa,
estiola a alegria, conduzindo ao corredor escuro
da
aflição.
Somente pode avaliar o
peso de angústias aquele que lhes experimenta
o guante
cruel.
Há, no entanto,
desgraças e desgraças. As primeiras são as que irrompem
desarticulando a emoção
e desestruturando a existência física e
moral da criatura que,
não raro, sucumbe ante a sua presença e
aqueloutras, que não são
identificadas por se constituírem conseqüências de
atos infelizes,
arquitetados por quem ora lhes padece os efeitos danosos.
Essa, sim, são as
desgraças reais.
Há ocorrências que são
enriquecedoras por um momento, trazendo alegrias e
benesses, para logo
depois se converterem em tormentos e sombras,
escassez e loucura. No
entanto, quando se é responsável pela infelicidade
alheia, ao trair-se a
confiança, ao caluniar-se, a investir-se contra os
valores éticos do
próximo, semeando desconforto ou sofrimento, levando-o
ao poste do sacrifício,
ou à praça do ridículo, a isso chamaremos
desgraça
real, porque o seu autor
não fugirá da própria nem da Consciência
Cósmica.
Assim considerando,
muitos infortúnios de hoje são bênçãos, pelo
que resultarão mais
tarde, favorecendo com paz e recuperação o déspota e
infrator de ontem, em
processo de recuperação do mal praticado.
Sob outro aspecto, o
prazer gerado na insensatez, os ganhos desonestos, as
posições de relevo que
se fixam no padecimento de outras vidas, o triunfo
que resulta de
circunstâncias más para outrem, os tesouros acumulados sobre a
miséria alheia, os
sorrisos da embriaguez dos sentidos, o desperdício
e abuso ante tanta
miséria, constituem fatores propiciadores de dolorosos
efeitos, portanto, são
desgraças inimagináveis, que um dia ressurgirão
em copioso pranto, em
angústias acerbas, em solidão e deformidade de toda ordem,
pela necessidade de
expungir-se e reeducar-se no respeito às Leis soberanas
da Vida e aos valores
humanos desrespeitados.
O Homem-Jesus não poucas
vezes chamou a atenção para essa desgraça, não
considerada, e para a
felicidade, por enquanto envolta em problemas, mas
única possibilidade de
ser fruída por definitivo.
Todos os que choram, os
famintos e os sequiosos de justiça, os padecentes de
perseguições, todos
momentaneamente em angústia, logo mais receberão o quinhão
do pão, da paz, da
vitória, se souberem sofrer com resignação, após haverem
resgatado os
compromissos infelizes a que se entregaram anteriormente, e
geradores da situação
atual aflitiva.
Aqueles porém, que
sorriem na loucura da posse, que se locupletam sobre os
bens da infâmia e da
cobiça, que são aplaudidos pelas massas e anatematizados
pela consciência,
oportunamente serão tomados pelas lágrimas, pela falta,
pelo
tormento...
São inderrogáveis as
Leis da Vida, constituindo ordem e harmonia no
Universo.
[...]
[Joanna de
Ângelis]
[Divaldo Pereira
Franco]
[Jesus e o Evangelho – À
Luz da Psicologia Profunda]
[Editora LEAL]