As crises, as dificuldades,
os desregramentos do mundo!...
De modo habitual,
referimo-nos às provações terrestres, mormente nas épocas de transição, como se
nos regozijássemos em ser folha inerte nas convulsões da torrente.
Em verdade, o mundo se
encontra em renovação incessante, qual sucede a nós próprios, e, nas horas de
transformações essenciais, é compreensível que a Terra pareça uma casa em
reforma, temporariamente atormentada pela transposição de linhas e reajustamento
de valores tradicionais. Tudo em reexame, a fim de que se revalidem os recursos
autênticos da civilização, escoimados da ganga dos falsos conceitos do
progresso, dos quais a vida se despoja para seguir adiante, mais livre e mais
simples, conquanto mais responsável e mais culta.
Natural que a existência em
si mesma, nessas ocasiões, se nos afigure como sendo um painel torturado de
paixões à solta.
Costumamos olvidar, porém,
que o mundo é o mundo e nós somos nós. Entre o passageiro e o comboio que o
transporta, há singulares e inconfundíveis diferenças. Se o veículo ameaça
desastre, é possível que o viajante, dentro dele, se converta em ponto de calma,
irradiando reequilíbio.
Assim também, no Planeta.
Somos todos capazes de fazer cessar em nós qualquer indução à indisciplina ou à
desordem. Cada qual pode assumir as rédeas do comando íntimo e estabelecer com a
própria consciência o encargo de calafetar com a bênção do serviço e da prece
todas as brechas da alma, de modo a impedir a invasão da sombra no barco de
nossos interesses espirituais, preservando-nos contra o mergulho no caos, tanto
quanto auxiliando aqueles que renteiam conosco na viagem de evolução e de
elevação.
Faze-te, pois, onde
estiveres, um ponto assim de tranqüilidade e socorro. O deserto é, por vezes,
imenso; no entanto, bastam algumas fontes isoladas entre si para garantirem a
jornada segura através dele. Na ausência do Sol, uma vela consegue acender
milhares de outras, removendo o assédio da escuridão.
Que o mundo se encontra em
conflitos dolorosos, à maneira de cadinho gigantesco em ebulição para depurar os
valores humanos, é mais que razoável, é necessário. Entretanto, acima de tudo,
importa considerar que devemos ser, não obstante as nossas imperfeições, um
ponto de luz nas trevas, em que a inspiração do Senhor possa
brilhar.