ABNEGAÇÃO
(Estudo
da Questão 912 de “O Livro dos Espíritos”)
No estudo da abnegação, fitemos em
Cristo o exemplo máximo.
Emissário de Deus entre os homens,
podia exigir um palácio para nascer, mas preferiu asilar-se no abrigo dos
animais.
Podia frequentar, na meninice, os
mais altos grêmios filosóficos e religiosos da nação que o contava entre os
seus; todavia, preferiu as rudes experiências da carpintaria de
Nazaré.
Podia aderir aos programas de
dominação dos maiorais em Jerusalém, impondo-lhes as sua própria condição de
missionário excepcional; entretanto, preferiu incorporar-se ao trabalho de
pescadores humildes, revelando-se a eles sem violência.
Podia escolher as damas ilustres
para entreter-se, com elas, acerca do Reino de Deus, através de tertúlias
afetivas no terraço de casas nobres; contudo, preferiu entender-se com as
mulheres simples do povo, sem esquecer a filha de Magdala, submetida aos
flagelos da humilhação.
Podia insinuar-se no ambiente mais
íntimo de Caifás ou Pilatos e agradar-lhes a parentela para ganhar influência;
no entanto, preferiu aproximar-se dos enfermos esquecidos na via
pública.
Podia acumular ouro e prata,
mobilizando os poderes de que dispunha, mas preferiu viver entre os
desfavorecidos do mundo, sem reter uma pedra onde repousar a
cabeça.
Podia afastar Iscariotes do círculo
doméstico, depois de perceber-lhe os primeiros sinais de deserção; todavia,
preferiu conservá-lo entre os aprendizes, para não lhe frustrar as oportunidades
de reajuste.
Podia agitar a multidão contra os
detratores de sua causa; entretanto, preferiu que os detratores a
comandassem.
Podia recorrer à Justiça de modo a
defender-se contra a perseguição sem motivo; no entanto, preferiu morrer
perdoando aos algozes, alinhando-se entre os condenados à morte sem
culpa.
Não te despreocupes, assim, da
abnegação dentro da própria vida, a fim de que possas auxiliar as vidas que te
rodeiam.
Supérfluo que nos enfeita é carência
que aflige os outros.
O grande egoísmo da Humanidade é a
soma dos pequenos egoísmos de cada um de nós..
Sofrer por obrigação é resgate
humano, mas sofrer para que outros não sofram é renúncia
divina.
Ninguém sabe se existe virtude nos
prisioneiros da expiação; entretanto, a virtude mostra-se viva em todo aquele
que, podendo acolher-se ao bem próprio, procura, acima de tudo, o bem para
todos.
Se podes exigir e não exiges, se
podes pedir e não pedes, se podes complicar e não complicas, se podes parar de
servir e prossegues servindo, estarás conquistando o justo
merecimento.
Não vale, pois, reclamar a abnegação
dos outros para a melhoria do mundo, porque o próprio Cristo nos ensinou, à
força de exemplos, que a melhoria do mundo começa de nós.
(De:
“Religião dos Espíritos”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito
Emmanuel).